me senti numa aldeia,
plena como não estou agora, fora do ritual.
pensava incessantemente, quando reconhecia do transe aquele céu, na fuga, na liberdade. na delicadeza do bailado, das cirandas, dos erês. 
deixei tanta coisa escorrer naquele templo a céu aberto. 
entendi tanto o tempo.
e mesmo assim a impermanência da carne, uma fortaleza no sangue correndo nas veias, verdes, feito rio. os olhos de água, se derramando, pondo tudo pra fora, sem que nada disso fosse espetáculo, mas experiência, mas movimento...
E aquele agogô acordando a minha ancestralidade. e os místicos se saciando de vida, de presente. 

me senti numa aldeia, uma outra.
sempre trocando trocando trocando, fugindo da capa, sem ressentimento dela, pulando de panela em panela, de manhã em manhãs, página por página. vivi o amor junto o amor só. e o tamanho do mundo dentro dele. o fora-dentro feito tivessem a mesma pele. era só fechar os olhos e sentir.

por isso eu disse a ele, sem que aquilo pudesse ser lido um dia por qualquer outra pessoa, ele, inclusive

- te amo, mas não te quero pra mim.

mas não, eu disse mais não, mesmo sabendo que ele tinha sido meu homem, meu homem dentro de mim, fazendo marca no meu corpo. que a tantos pertencia que não pertencia a nenhum. sim, é claro, não me confunda, dizia a caioá, havia uma pedrinha dele, pequena, verde, desenhada com seus olhos que nunca saíram de dentro de mim.
mas isso não pesava a me impedir de caminhar. no fundo, lá, do bolso, fazia era um barulhinho bom, quando da fricção com os outros grãos as outras chaves as palavras, verbos congelados, esse rio pra patinar.

era o tempo-teia

e eu era livre outra vez. 




Um comentário:

  1. Aprendia a adicionar mais blogs na minha lista e vi que anda escrevendo coisas belas por aqui também, beijos flor e gratidão por me incentivar a escrever...

    ResponderExcluir