o armarinho

caioá me ouviu contar durante muitas horas com um gesto mínimo de acender um cigarro, depois um outro, e mais, e no final me disse parece que eu conheço essa mulher. talvez dos livros. 
ele sorri. nunca duvidei que voltarias outra. como sabe?, cismo. basta te olhar para perceber que você não está no mesmo lugar. o desejo é quase sempre burro, coração. mesmo que você tenha ido para fugir, mesmo que você volte e ainda não tenha entendido o rumo do desejo, o velho impulso que te leva da praia para os braços do mar. mas, veja, teus olhos são outros. eu os vejo daqui, de muito perto. de dentro. 
digo que caioá está muito místico e mais profético do que costuma ser. ele disse que podia ver que aquilo era mais um giro do tempo. e era muito difícil ficar indiferente ao inverno. que ele mesmo vivia um tempo de chuva. e, sim, claro, era gostoso ficar ali dentro do ventre de júlio, aquecido na rede, conversando durante horas e horas e horas. que talvez nunca saísse dali se não aparecesse sol. o sol nascerá, batuco cartola marota e menina. ele me acompanha. relembramos o carnaval cheios de riso. rimos muito. preciso continuar andando então o beijo feito namorada, para me despedir.