pedro teve muitos filhos e fez pra todos eles camas enormes de madeira, o que pra mim era a maior herança do revés que meu pai tinha deixado nele. naquelas ripas, naquelas cabeceiras havia um medo enorme do vento. era o desejo de pedro de segurança. meu irmão me repreendia porque eu nunca mais passei a ter casa, a ter pouso, exatamente como nosso pai.    valia o trânsito do pradianti, a eterna ida-e-volta do sertão, um desejo de ser rio, que nunca abandonei, embora nunca tenha parado de me chamar, a beira de sal. eu era água, eu era navegada pelo acaso. rosa, precisas ter um filho, me dizia sempre, quando tiveres um filho aprenderá da terra firme. não era nada disso, tento explicar. mas nada cabia na história que pedro tentou construir pra si. não era começo-meio-fim. eram gotas de parágrafo, de recortes de peças de armarinho me fazia. rolos e mais rolos e mais rolos de memórias. presos no corpo, enroscados de canções, de aquarelas. mas eu também não sabia, eu também aprendia a nadar. com retalhos, com restos, eu bordava cadernos, eu firmava na agulha alguma vida. era a escrita meu porto.  

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