a porta fechada. muito densa, muito volumosa.
ela com um pote de sementes de jasmim nas mãos. o convite de um jardim.
e escrevendo coisas, sem parar, com os olhos.
dizendo toc, toc, vem, senta aqui, vive. e a porta fechada. muito densa, muito volumosa.
e de resto uma praia noturna. proibida.
ela com um pote de sementes nas mãos.
e falando sozinha coisas de magia, de um agora repentino. e ela falando de toque. de cara com a porta.
é um dengo que sobe pros olhos, me sobe pro corpo, ela diz buliçosa, toc toc.
se acalma pondo palavras no barulhinho do mar. com os olhos.
explode ali, no papel.
e depois chama. é um devir. um vir a ser. é um agora.
agora que tudo está prestes a mudar, ela diz.
as luzes da ilha, muito perto, muito longe, chamando, sem saber. toc toc, estou indo embora e vim dar adeus
e a porta fechada, inaudível, abafada
muito densa, muito volumosa.
e ela fazendo texto, tempo todo, com um pote de sementes de jasmim nas mãos.
quer acontecer, quando tudo está prestes a mudar.
repete a cena. cria histórias. no papel, perdida, é vivível.
na realidade da tinta de uma caneta fineliner.
uma hora se pergunta se é ali mesmo, dentro da porta, onde quer plantar aquelas sementes, onde quer uma árvore de maracujá fazendo sombra numa preguiça.
por isso um estado de dúvida já não diz nada mais que isso, sem metáforas
é só uma porta fechada
uma ligação perdida
me parece mesmo que está tudo prestes a mudar, escreve antes,
na porta que virou muro
um forte contra explosoes de desejo
desentender o tempo para caber em si, escreve na areia do mar
quando o desejo ficou velho
joga ao mar umas sementes, sabendo que não vão dar flor
engole outras
parte para o vem aí, o para lá
das ilhas
e a porta fechada. muito densa, muito volumosa
contínua, estável, conforme
e ele ali enjaulado atrás
jardim era dentro dela
fértil que estava
foi assim que se perderam
ponto final.
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