o sertão era grande demais. era o mundo. a gente escorria numa imensidão onde só importava existir. por isso comecei a pesquisar as pedras. era uma noção de real que eu precisava ter diante do acaso. mas mesmo assim eu fazia disso ou isso se fazia pra mim - tanto faz - de jeito inesperado. isso mesmo. pedras no caminho. mistérios. a pesquisa do desconhecido, feito uma poética. para nunca embrutecer, para nunca enSImentar. o sertão foi um fogo que não tinha mar que chegasse.
parti, querendo ficar. como me doeu isso.
mas sempre havia de ter o carnaval.
gentil me assoprara: esquece a tristeza.
e parti, e voltei e tornei a partir até que a vida fosse pra diante. até que o amor voltasse a arder, feito fogo, fazendo sertão, folia em mim.
tinha aprendido a sutileza da canoa. tinha compreendido o tempo das cartas.
por isso voltei.
mas também não tinha justificativa muito exata. não era preciso. nunca fui. era coisa de não ter bordas. sentido. era a narrativa, era eu, se procurando, se fazendo só.
quando um surdo de terceira do samba na praça ecoou, rompi o silêncio dos perdidos. tirei os fones e soltei a voz. foi lucidez desatino, expliquei a caioá pra depois pingar uma gota de Qboa nos olhos. para que não pudesse ver mais nada de memória, nada de passado. nem morto nem vivo. era carnaval, era fevereiro outra vez, dentro de mim.
e trampolim era pra sambar em cima. viver de risco, ser grave.
chegara da narradora, enxugando no pano de prato as mãos sujas das canções (sic). chegara da ilusão do destino. só valia o acaso.
bastava da maldição do fado.
desliguei o barco e fui pra rima, pro desafino de passos.
mas ao invés da gelada solidão de inverno, uma multidão.
uma multidão gentil a se esquentar de delicadeza, essa política.
num atalho da poética do asfalto, num dia, voltei e sambei outra vez.
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