sininhos não param de tocar. como se alguém caminhasse com uma bicicleta pela casa entre sala-cozinha-banheiro e acionasse aquelas buzinas de bicicleta. caioá está lá fora. falando sozinho. de um lado pro outro. com sininhos pendurados na roupa. eu me recolho no seu abrigo, quentinho que é. e lembro quando me disseram que dá sorte esses penduricalhos sonoros.
fica com essas entrelinhas aí, caioá entra, diz e ri um pouco de tudo. volta, rosa. em seguida botou bethânia porque dizia que bethânia tinha cara desse dia do ano. um dia em que não se pudesse dormir. um tempo agudo porque urgente. um tempo da delicadeza, ele me disse meio mágico. tenho vontade de escrever cartas, caioá. estou confusa e queria reunir tudo numa carta só. mas não posso, veja.
(folha molhada, página borrada. ilegível)
caioá me diz muito cético que ele faz parte do mesmo time. desses que tem medo de ser imobilizado cada vez que ouve uma coisa dessas. e me diz: fique mesmo em silêncio, escrevendo cartas anônimas e ridículas. cartas sem remetente. for no one, não é?, digo reconhecendo todos os subtextos que ele me lança. tua geração não tem essa beleza. tem sim, retruco. ele sorri porque sabe. eu repito só para que ele não esqueça: eu não entendo. porque tens essa mania de explicação, me diz, muito lúcido, repetitivo e quase bravo.
mas eu adoraria escutar, completa, inesperadamente. adoraria escutar essas tuas cartas. desde quando você começou a cometer censuras?, pergunta, todo blasé, recolocando os óculos na face. desde que virou o tempo do amor. assim vermelho e alegórico que nem carnaval. pois foi isso. fiquei ilegível, posto que água. sempre que é fevereiro ficas assim mais marítima, me responde como se me decifrasse. e já perdeste, inclusive, nomes, rostos, gostos. tudo diluiu-se. por isso for no one. a partir de agora, neste dia que segue. não vá querer segurar isso. porque já entraste em movimento. ai, seu bruxo, dou-lhe um abraço seguido de beijo.
(idem)
faço mas não conto era o nome do bloco, disse, rindo. ainda tem confete emaranhado nos teus cachos, rosa, te recupera. mas me conta tudo depois, desde o sertão até aqui? não tem nada pra contar além dessas histórias que invento, dessas cartas que escrevo, cherry. perdi todos os meus neurônios de memória. é tudo mentira, nego. só esse olho no olho que não é, me diz quase melancólico. esse olho no olho que dura. continua dormindo aqui, comigo? -- tem um acesso de carência repentino -- continuo. por que esses sininhos, caioá? pra romper um pouco o silêncio deste dia interminável, nega.
fica com essas entrelinhas aí, caioá entra, diz e ri um pouco de tudo. volta, rosa. em seguida botou bethânia porque dizia que bethânia tinha cara desse dia do ano. um dia em que não se pudesse dormir. um tempo agudo porque urgente. um tempo da delicadeza, ele me disse meio mágico. tenho vontade de escrever cartas, caioá. estou confusa e queria reunir tudo numa carta só. mas não posso, veja.
(folha molhada, página borrada. ilegível)
caioá me diz muito cético que ele faz parte do mesmo time. desses que tem medo de ser imobilizado cada vez que ouve uma coisa dessas. e me diz: fique mesmo em silêncio, escrevendo cartas anônimas e ridículas. cartas sem remetente. for no one, não é?, digo reconhecendo todos os subtextos que ele me lança. tua geração não tem essa beleza. tem sim, retruco. ele sorri porque sabe. eu repito só para que ele não esqueça: eu não entendo. porque tens essa mania de explicação, me diz, muito lúcido, repetitivo e quase bravo.
mas eu adoraria escutar, completa, inesperadamente. adoraria escutar essas tuas cartas. desde quando você começou a cometer censuras?, pergunta, todo blasé, recolocando os óculos na face. desde que virou o tempo do amor. assim vermelho e alegórico que nem carnaval. pois foi isso. fiquei ilegível, posto que água. sempre que é fevereiro ficas assim mais marítima, me responde como se me decifrasse. e já perdeste, inclusive, nomes, rostos, gostos. tudo diluiu-se. por isso for no one. a partir de agora, neste dia que segue. não vá querer segurar isso. porque já entraste em movimento. ai, seu bruxo, dou-lhe um abraço seguido de beijo.
(idem)
faço mas não conto era o nome do bloco, disse, rindo. ainda tem confete emaranhado nos teus cachos, rosa, te recupera. mas me conta tudo depois, desde o sertão até aqui? não tem nada pra contar além dessas histórias que invento, dessas cartas que escrevo, cherry. perdi todos os meus neurônios de memória. é tudo mentira, nego. só esse olho no olho que não é, me diz quase melancólico. esse olho no olho que dura. continua dormindo aqui, comigo? -- tem um acesso de carência repentino -- continuo. por que esses sininhos, caioá? pra romper um pouco o silêncio deste dia interminável, nega.
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