é como se estivesse faltando um pedaço, aqui, sem o guri. como se ele tivesse de repente sumido do mundo e no mundo aberto um buraco. como se a vida não tivesse passado, como foi. e de repente as minhas mãos ficassem novamente vazias. sem fazer sentido. inúteis.
a culpa gruda e não me larga. 
sacode, sacode a poeira, alguém me sopra.
a quietude revela. 
vela, será?

um ano que começa. um ciclo recomeça. histórias em círculo. 

tinha, teve, tem
sempre
esse gosto repetido

surgir. rugir. correr. curar.

a progressão fevereira,
rápida reviravolta. 














não é passarinho, mamãe
é um pato da represa da vovó


quando chegar
saberá já muito
do dizer

e eu direi
escuta, meu filho, tua mãe tem um coração vagabundo
perdoa tua mãe, meu filho


foi que eu pensei, passarinho
que era pra você
voar
sozinho

eu sei, eu sei
parece pato o passarinho
são os patinhos da represa da vovó 

[tive vontade de ficar]

olhos cerrados
para ver a beleza das curvas
tortas
dos espirais do planalto central

-do começo ao fim-

para ver com olhos,
vibráteis

regamos o pé de menino 
do menino nele
na praça

nossa história não termina
nunca 
de ser contada
e escrita, parceiro

daquelas cores que florecem na quaresma
eu vi
a primavera sorrir





e eu me lembrei de tudo
porque tive que chover 
para ficar verde outra vez

[que a nossa história está registrada nesses álbuns de fotografia, nessas certidões, nesses diários que amarelam com o tempo. está no espichar desse guri, nos seus olhos vivos, em sua caligrafia futura. é uma história só nossa.]


já vai ficar tudo ben, mamãe



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