Estou deitada na linha do equador: no meio do mundo. Estamos eu, caioá e a guerrilheira. É assim: ele me põe na rua e termino a noite deitada no meio do mundo. Eu esqueço tudo que aconteceu nesse espaço de tempo, mas estamos lá: o corpo presente, os três muito bem resolvidos. isso porque eu passei a noite em claro, isso porque acordei, não dormi. Somos tomados por uma lucidez impressionante. Os três. E a lucidez é invariavelmente ébria. Não é, Sally?
Eu chamo a próxima senha, ele diz a vida é agora, aqui, nesta linha, a guerrilheira, que já rompeu essa fronteira há muito tempo, me diz deixei pra trás os covardes (pausa) todos eles.
Um vento passou. De repente, naquela paisagem muito deserta, muito azul, entendo isso. Foi um vento. Passou. E a gente sempre sabe disso, que passa.
Foi vento de outono.Por que eu me acovardo quando a lucidez faz tudo parecer cinza? E agora essa primavera traz pólen laranja... cem mil laranjas vindo em nossa direção... vem com a música e atravessa o corpo. Por isso, a primavera não está nos dentes, mas no corpo todo. Essa corrente de ar primaveril vai voando para os trópicos........................................
Estou em estado de vento.
Ele me recrimina: deixe a poesia pra depois. Isso ele diz, porque tem mania de dizer, que eu sou uma fingidora. Isto é: sempre inventando psicologismos para me salvar. Eu retruco: psicologismos não, narrativas.
Parei de falar com eles todos. Abandonei o mar, canoeiros. Não respondo mais cartas, mensagens de vidrinho de garrafa nem cutucada. Foi um cansaço que me tomou e eu fui. Peguei uma carona e cheguei lá no meio do mundo. Dei adeus.
Foi outro vento, pois. Um vento que me carregou. Um vento que me navegou.
Sabe?
Parei de fingir e fui ouvir a vida.
Outravez
Pulsando no corpo.
Um orgasmo se alongando por horas
... .... ... ... ....
(prazer)
(bomdia)
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