quando já estava bem perto da praia, fixei a jangada no mar sem onda e me atirei no mar. já fazia sol, embora eu mergulhasse muito fundo, buscando ainda alguma escuridão.
cheguei na areia, senti o peso da muita roupa e avistei caioá bem de longe, vindo em minha direção, muito vestido, muito sofisticado, bengala na areia de sapato fechado, óculos embassado de maresia.
do trajeto até o encontro eu ia meio trôpega, meio suspirando, mas figindo estar em par com o sol.
quando cheguei nele, disse:
- me abrace?
- que clichê, nega.
- essa cena toda.
- odeio quando te repetes.
- eu, mais...
- por que é que você foi?
- nem devias perguntar, se já sabes de tudo.
(resmunga)
- foram bolinhas de sabão, caioá. essas efemeridades que me fascinam.
- isso é vento. vento não tem gosto. ó, vamos embora, eu cuido de você.
- me abrace?
- agora não. você vai me molhar todo. e eu preciso estar seco para poder cuidar de você.
- eu mergulhei para tirar o pó do corpo, meu amigo.
- nega, não fica voltando nesses mesmos lugares. sai dessa praia. deixa que o acaso faça tua rota.
- já sei. você vai dizer agora que eu sou uma controladora.
(sobe apenas uma sobrancelha)
- meu amor, não é hora de drama.
- me dá um sabor novo pra que eu possa provar?
- virá...
(pausa, olhando o mar)
- agora vamos.
ele não precisou me arrastar. talvez não estivesse tão trôpega quando julgava. fui caminhando, embora tenha sido caioá quem me levou de lá.
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