ele me botou no colo me chamando, vem, minha preta, volte para sua ilha, que sou eu. dei um suspiro longo de cansaço. não era fácil a vida no mar. e xangai podia me acariciar as feridas como ninguém, porque era leve feito vento e nunca me embriagava de afeto, era sempre pouco e certeiro, curandeiro. trabalhava certo, como se dizia por aquelas bandas.
era canoeiro de rio-mar. tinha margens estreitas, não era difícil descer de seu pequeno barco.
e quando me amava, me botava líquida, mas nunca me furtava o direito de ser terra.
por isso, no final, recostava o seu ouvido sob o meu, e me imprensava com o corpo todo.
o peso da realidade de seu corpo, aquele peso que me abrandava as chamas, me curava a febre da paixão do mar. vem, minha preta, ele dizia, venha para o seu xangô.

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