caioá se recusa permanecer na sala caso continue tocar aquele mesmo disco da fossa. bethânia vai te levar pra uti, darling. ofereço um caetano sabendo que ele vai querer, no máximo, um gil. uma coisa meio refavela ou eu preciso aprender a só ser ou um tenho sede, no máximo estourando. eu digo, oras, deixa eu beijar cotovelos, ficar escrevendo de calcinha. lá me londres vez em quando me sentia longe daqui, canta gil. ele ouve, ri e diz que eu preciso rir um pouco mais de tudo isso. do meu pequeno caos, ele me diz, do seu se perder. fazemos o melhor silêncio do mundo. porque eu sei que ele não está pensando no que eu estou pensando. está ouvindo gil e cutando qualquer coisa na própria unha. eu dichavo ideias em cima de um livro, acendo mais um cigarro e sorrio um pouco contando a noite anterior. ele se interessa porque se seduz muito mais do meu presente que do meu passado. minha noite anterior é menos fabulosa, mais poética, mais vigorosa. história repetida não. ah, caioá, me deixa. tudo bem, minha amiga, se o passado te faz criar, se você escreve pela memória. um anticomputador sentimental, cantarolo, pedindo que ele se levante para pegar o vinho para começarmos nossa noite. tá bom, eu tiro a gal, aceito a condição. sozinho e apaixonado é o pior verso para uma noite de lua como essa. sem querer o dj shuffle me larga um chuva de prata e ele, de um jeito todo dele, solta uma gargalhada brava. deixo um pouco tocando e só me atino a tirar quando começam os primeiros versos de aquarela do brasil, aí já é demais. começo a lembrar da instituição de ensino, literatura brasileira e construção da nacionalidade, e fico aluada. perco caioá de vista. já não tem nem som de se ouvir, só o da cidade. stop geral. acabo de descobrir que comprei um pisca pisca de natal que precisa de pilhas. não acredito que eu comprei um produto que precisa de pilhas, digo alto. talvez te sirva quando cortarem sua luz de novo, diz caioá-espinho, altamente provocador. nega, que horas que você vai se dar conta da sua desatenção. que horas você vai corrigi-la. aí choramingo dizendo que ele está sendo muito cruel comigo. e estava tudo muito confuso. muito trabalho, tanta vida, tantos cortes. vamos tecendo imagens como essas no papo ao longo de toda a noite. é o novelo que temos, é o emaranhado. digo que no fundo agora é pagar o preço de ter arriscado. é assim o risco, diz ele. mas que tinha também um certo orgulho no meio de tudo isso. que aquelas fabulinhas talvez fossem um capricho. caprichosos de pilares, respondo rindo alto. ave, que quando fica tudo assim tão grave, chega bethânia de tanto drama. está bom por hoje, sim? toca um samba nesse rádio que a noite ainda é inesperada. caioá acende um cigarro e confabula encontros no celular. eu fecho outro cigarro. tá tão bom aqui, digo preguiçosa. ele reclina o rosto, fazendo com que caia um pouco as armações de seus óculos. levanta uma só sobrancelha. sorrio pra ele e pego seu colo pra mim, enquanto ainda é tempo.

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