aquele
frágil
entardecer
me rasgando o peito.
era essa e muitas outras imagens que me vinham. e uma pata de loba, da terra, me azunhando o rosto. um gesto leve, familiar e ao mesmo tempo cortante. que nem palavra. que nem navalha pouca afiada. repentina feito contração de parto, que se espera mas nunca se sabe pra quando exatamente. um oco veio lá de dentro, como se fosse um fluxo do vazio. ecoou nos arredores da fogueira que xangai tinha acendido.
uma queda dágua me arrebatou. cai como uma loba, em idade de transição. serpentes, serpentinas, dentro de mim. a seiva me lavando o passado para que eu entendesse de outros. para que eu entendesse tudo que fosse maior. pus pra fora um pouco do que engoli. para entender como aquilo me tornava uma, só uma. e eu era as árvores, eu era a mata. foi quando morri. morri outra vez. e habitei o mistério da mata. partilhei dele. eu estava expandindo, passando por cima do passado recente. eu estava me lembrando, na medida em que me esquecia da tribo recente. estava não só me lembrando, mas habitando de novo outros tambores que tocavam meu coração. estava refratando,refratando minha narração demolidora. e prensada. dura. pedra.
eu tinha morrido outra vez.
o compromisso de se transformar
contínuo
o curso da vida
iroko
a existência,
a alma,
esse vulto.
depois de ter tropeçado, várias vezes. depois do medo me tomar, entendi que aquilo não era pouco.
entendi que tinha ficado seca, parado de chorar, porque tinha perdido a coragem de me derramar. de estar liberta. de estar sincera com alguma verdade. por isso, por isso eu voltei a chorar. chorar até que inchasse toda a pálpebra, que contivesse no muco, preso, tanto liquido que me fizesse morta-viva. paragem. gramas verdes, gramas verdes, e o líquido depois quando passou um vento. um vento oco. estava conectada outra vez com todos os sentidos, inclusive daqueles que não pudemos nomear.
terroristas da floresta.
o lobo me convocava para a luta.
para não passar ileso ao amor, à poesia da vida.
eu voltei a escrever porque voltei a escutar-me quando escutei a floresta. quando ela me curou.
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