nunca soube deles.
nunca entendi como os canoeiros poderiam se habituar a ocupar aquelas estreitas e afiadas bordas. como conseguiam seguir durantes tantas horas de água, sem amor na rota.
navego o acaso cheio de não saberes, com os saberes que pedem fuga às instituições,
e se inscrevem loucamente nelas.
navego pelos espaços vazios de letra, prenhes de vida.
pode não ser agora, me diz pedro, que tem muita paciência com o tempo. depois tem uma explicação de cheiros, um papo de quem não se apaixona, nada sente, diz não sei o que é amor.
eu pergunto porque não responde minhas cartas, meus postais quando a carência volume alto em mim. porque talvez eu saiba que você não goste do que posso dizer.
para cuidar de você eu me calo, ele me diz mas não explica.
caminho só, por uma pá de tempo.
escuto a liberdade,
duvido dela.
sopro, desejando, aos quatros ventos, um fluxo maior de palavras.
pouso na terra um ovo quebrado escrito repleto em sua pele morena.
desejo a ação, feito oferenda, o curso das palavras pradiante. fazer história, frente a tanto esquecimento. posto que voltar a tecer uma dramaturgiz seria se perder outra vez de si, da voz da autoria.
e rosa querendo escrever o mundo, prender lençóis, panos de confete.
um personagem em rasgo emerge de mim. fica nas mãos novelos e novelas emaranhados,
quando não uso a tesoura, como ter fio condutor?
espasmos. palmas pra dar ibope. deixo tudo quieto, ao revés, para escutar o silencio de pedro.
o que mais sabe de mim e não diz.
sou tomada de frustração mais uma vez, toda vez de cada descuido do movimento das mãos rochosas dos canoeiros que rasgam meu papel, meus personagens, só porque conseguem me ler. só porque a elas sou legível.
insisto nas frases longas.
xangai apareceu assim.
dessa insistência.
no meio do manguezal de dúvida pôs as mãos no meu corpo feito ele fosse braile.
me botou à deriva, aos sabor das ondas.
abriu uma enseada no coração de pedra que me endurecia
pouco a pouco
pouco a pouco
fiquei com as mãos cheias de água e não soube plantar nenhum jardim sem o perigo de matá-lo. me amolou o desejo, me amoleceu em dias seguintes quando conchas são grutas.
deixou meu texto desritimado, assim, cheios de buracos vazios,
sem saber acabar,
querendo guardar tudo, catar desperdícios, pendurar badulaques,
mas
querendo esquecer a dor que é o tempo quando passa e perfura o corpo de memória.
xangai apareceu assim.
foi o único que rosa não conseguiu matar. foi o único que soube colher seus espinhos.
apareceu da teimosia do fluxo, da rota das perdas, numa paisagem vulgar.
veio linha a linha
e costurou-se em seu jardim
perfurando não saberes não lugares
provocando adjetivos
sem saber acabar,
sem saber acabar,
sem saber acabar,
sem saber,
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