bailaor s/violeiro
para pablo
ele voltou um homem feito. e me disse: pega a solidão e dança. sorri. você precisa partir outra vez, continuou. volte.
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daqui de tão longe, posso te ver? sou toda memória, meu amigo. você escrevendo na parede arriscar e a gente batendo asas. porque tu és do risco. mas não é isso? viver é muito perigoso? és vasto, amigo. não cabes em ti, escrevi em esperanto para que só ele pudesse entender.
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o menino passou por dentro do fogo e viveu. tinha muita água dentro de si, fevereiro que era. mas foi por uma fagulha que o menino passou por dentro do fogo e viveu.
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e precisamos todos, rejuvenescer. ele escreveu na parede com giz de cera azul marinho.
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ela dizia uma coisa que era linda: ele é teu braço. às vezes eu achava que era um prologamento de mim, de tão meu. por isso o abracei forte, com todo o amor que podia caber na força que se faz para envolver o corpo do outro. onde estive o tempo todo que não aqui, do teu lado?
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o passado nunca mais.
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viver é o mais gostoso, meu amigo. é poder se reinventar todo o tempo. sei que sabes disso porque és vasto. és vasto como um mundo. és um mundo, meu amigo. um furacão, por vezes. tens um brilho nos olhos de se apaixonar, mesmo quando chora, mesmo quando ri, mesmo quando danças. e tu é dança, é a música pulsando no corpo, o canto alto e performado. és estético, digo enxugando uma lágrima qualquer que aconteceu, do lado de dentro. você pode até dizer que estou por fora. pode ser, pode ser. eu estou longe. tenho tudo de memória. nós, uma noite muito laranja, uma cidade insana, absurda. o passado tem essa foto de dias de jardins internos de super quadras. onde nossa loucura era alimento. feito algodão, feito voar. não era isso que a gente fazia? voar? estou tão longe, assim perto do mar. morno e ingênuo. era assim o passado. mas tem alguma coisa que é um presente de nós. alguma coisa que está dentro ali da caixa de ipê escrito de vermelho por fora: ternura. és meu irmão. te sinto aqui dentro do quarto. deitado na minha cama, dormindo comigo. tomando café, dentro de mim, fora de mim. você é um disco de caetano indo lá virar o lado na radiola. você é este moço lindo cantando e dançando a rumba azul. sensual. és muy fuerte, canto em seguida. essa força do furacão, entende? e que sabe ser brisa.
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eu sou funcionário, dizia eu. ela é dançarina. no meio da sala podia se ver o teatro. e nós virávamos, juntos, um trovador. cantando o meio do mundo. e seu centro geográfico, o sertão. voltei. para saber que tinham roubado a minha ilusão naquele nonagésimo congresso de esperanto em copenhagen. e a realidade era o amor. por isso voltei.
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like a rolling stone.
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