a senhora muito antiga caminha na outra ponta da calçada, passa feito a sabedoria que tem o bonde, de vagar. o passo muito lento vem carregado de tempo. volta um eco de terra, sempre qualquer coisa de passo, de terra-mãe quando vira a página e começa a vida a se escrever, nova, folha a folha. do que se deixou pra trás, aprender com a lentidão. perder tempo para ganhar. o trânsito se instalou neste cabo de aço e parou. há de sempre se mover, mas há de parar aquele passo, um dia. restarão livros na prateleira, meu filho. sempre terá um pouco de mim riscada rasgada ali.
a senhora se protege da rua que mesmo um vento pode lhe arrebatar. está leve, embora nos pareça que o corpo pese. é a mãe da mãe na mãe. pouco vê porque muito já viu. 
ela me estende um badulaque e diz para você não se perder. se perder, segure na mão deste menino de passinhos curtos, diz ela. tudo vem dela, essa voz. 
talismãe,
pendurucalho de proteção.



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