foi como se eu tivesse sugado um pouco da energia das águas e retivesse o que ficou. foi o barco correndo pelo mar até ficar tudo só infinito. era como se fosse a sabedoria toda reunida. como a nudez dos desertos, dos sertões. e dessas sensações de que a casa é o mar, é o mundo. mãos dadas e seguir no fluxo, no trânsito. é quando a solidão se faz de uma beleza impressionante. bonança. voltei ao caos sei lá depois de quanto tempo. jorge trabalhava com cordas na beira do cais e assistiu meu ancoramento com olhos que nunca vira antes. ele me olhou como se não pudesse reconhecer que o tempo corria invertido. e que rosa não estava mais ali. sorri sem armas, cordas, amarras. eu disse, meio louca, meio bruxa, passou. mentira, morre e vive o tempo todo. mas não. jorge não podia reconhecer que eu passei. passei além-mar. e não parava de seguir. fiquei durante um tempo pensando no que pudesse dizer a ele, mas descobri que não tinha mais nada a dizer. entreguei-lhe uma folha em branco. um lenço em favor de paz, sorri, moleca. você não pode me deixar aqui sem palavra, reclamou. deixa pra lá. dizer não é compreender?, provoca e eu já estou de mochila nas costas outra vez. mas eu prefiro desaprender agora. corri para encher de beijo caioá.  

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