o sertão tem alguma coisa, caioá. os desertos. tem uma aridez que me põe viva de outra forma. é mais perigosa a vida, parece. e um perigo que fala de urgências, mas da raridade das coisas. da vida, melhor dizendo. ele se põe muito silencioso, talvez sabendo do que eu vou lhe dizer, embora tenha insistido tanto pra eu falar. foi assim ter partido para o interior, naquele ponto da história. e foi tão pouco que eu estou arrumando minhas malas para voltar. é como se precisasse agora daquele chão. é um tipo de estabilidade que não tenho, aqui no mar. é um sóbria-ebriedade, como sempre afirmei a 4 cantos. mas você está mareada, rosa. posso assistir daqui você balançando e luzindo como o mar faz quando noite. o mar tomou seu corpo, honey. pode-se ver. não vê? paro e digo que ele atrapalhou minha fruição. mas imagina se eu deixasse você explodir, brinca. me fascinam as explosões, digo rindo porque sinto que é tempo de abrir o peito e levantar das carteiras. é tempo de ação, de movimento. e ficar ali com caioá me fazia às vezes acreditar demais no personagem. mas deixar a fruição ir era perigoso e ele me alertava disso. volto pro tempo da cena. digo a caioá que agora estou pensando em alguma coisa que precisa ser desdobrado. sair do líquido da tela e dar outra materialidade ao pensamento, às idéias. dar relevo; para sentir no tato a superfície, o calor, e tudo mais. ele me diz, sabe-se deus com que expressão, que eu vou esquecer do que aconteceu e ele - aliás, todos - perderão o rumo da história. sorrio. sim, escrever no cimento, sobre o esquecimento, é disso, é do concreto que eu estou falando. e é um caminhar para outra realidade das palavras. caioá se irrita profundamente. diz pra eu sair já da academia e retornar pra ele, marítima, fantasiada de marinheira.
eu sentia o retorno de jorge na memória do meu corpo. uma sensação que muitas vezes se repetia. meu corpo tinha tanto aquele canoeiro como tinha o mar. por mim ele também navegava. e ele sabia cada curva do meu corpo de cor. um dia - numa dessas voltas - ele chegou e me abraçou e me beijou dizendo que tinha desenhado minhas escápulas todo o tempo do caminho de volta. disse, rindo, lindo que é, que era um estudo. estou fazendo um estudo das suas escápulas. eu não disse a caioá, mas eu sentia o retorno de jorge na memória do meu corpo. e estava decidida a partir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário